Ele abriu a porta com força e nos bateu contra a parede.
Um ano atrás, nós éramos o centro das atenções. No aniversário dele, todos queriam nos conhecer. Os amigos perguntavam: "Onde estão elas, quando chegaram, de onde vieram?"
Ele, sorrindo, nos apresentava a todos. O quarto se encheu de fotos nossas. No diário, escreveu que nós fizemos dele um campeão, adorava nosso perfume, nossas formas eram perfeitas.
A outra chegou no dia dos catorze anos dele. Ela é fantástica, os convidados diziam. Todos posavam para ela, enquanto se movimentava pela sala, os olhos gulosos, um ar de superioridade. Só ele podia segurá-la, mas os outros estavam louquinhos.
No final da festa, levou-a para o quarto. Pôs os olhos distraídos em nós duas e nos dependurou atrás da porta. Para ela, um esconderijo próximo à cama dele. Morremos de ciúmes daquela proximidade, das habilidades e das imagens que guardava dentro dela. Nós aqui, peles esfoladas de tanto sermos prensadas entre a porta e a parede.
Dias depois, ele escreveu no diário que a filmadora nova é o maior sucesso. Está pensando em fazer cinema. Não tem mais tempo para lutar boxe. Dependurou as luvas.
Vera Ione Molina
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